domingo, 26 de outubro de 2008

Análise

Da janela deste café descortino as vidas que passam menos barulhentas e menos coloridas. Padecem cigarros, passam crianças, pobreza, riqueza, beleza, estranheza restitue-se em natureza e a violência até parece estar distante. Ficaria por horas analizando-os neste exato slow-motion ao som de Dion em especial natalino, com luzes coloridas perfazendo o cenário. Sinto borboletas no estômago, não desfruto do medo e muito menos do frio.

Aquele rapaz em especial, sapatos caramelados, gola do paletó para cima, charmosos cabelos bagunçados pelo namoro dos ventos lá fora, à cobrir as orelhas, numa simplicidade refinada. Tão alinhado, que mesmo sem um exato propósito, acaba induzindo sentido à garbosos e adocicados corações por esses longos e infinitos minutos que ficas à esperar pelo teu café com leite – tamanho grande. Bochechas magras e avermelhadas. Notei que usas uma jóia no dedo anelar: Deves pertencer à algum sortudo e compor-lhe cantigas ao violão – sei que és músico – colocando à mostra estas doces covinhas de timidez, assim como fizeste agora para mim, por acanhar-se ao saber que és assim tão encantador. Três envelopes de açucar branco e um copo de água em temperatura ambiente ao final, como eu. Não é mera semelhança. Queres arrancar-me suspiros apaixonados em plena tarde de sexta-feira. Sorri e mostra novamente às solitárias covas em um lindo canto de adeus. Parte pela porta da frente, levando à Oxford Street um pouco de esmero, mas tornando-se apenas mais um no povaréu.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Carta cor de carmim

Ditosa manhã ensolarada medita em minha hesitação, onde a vida ocasionou notícias de meu futuro incerto. Falaremos depois, pois agora sinto-me contente. No dia de ontem estava a fazer meus afazeres diários quando percebi que as cartas foram arrojadas ao rodapé da porta. Lá estava ela, em envelope pardo com meu nome escrito em caligrafia açucarada, redonda quase infantil. Ao romper as extremidades, deparei-me com uma carta cor de carmim insculpida vinte dias atrás, frente-e-verso, acompanhada de um livro e uma gravação. A primeira carta que recebo nesta pátria distânte não haveria de ser mais imaculável, capaz de transformar minha confusão em ventura.
Minha querida amiga, nos tempos de escola esteves sempre tão longe... e tão perto. A autêntica aproximação aconteceu ao encontrar de nossas profissões, lembras? As diferenças então completaram-se no acontecer desta duradoura relação. Hoje leio e releio suas histórias, ouço o disco – selecionado faixa à faixa com a intenção de regozijar meus dias: Roberta Sá e Céu “Com carinho um pouquinho de Brasil”– que fatidicamente não funcionou, mas usando os recursos tecnológicos que tenho consegui fundar-me no sentimento proposto. Mas, como você deve presumir, o que eu mais me arrancou sorrisos foi o livro. O mais incrível é que você, sem saber, ajudou na custosa tarefa de devolver o original à seu devido dono. O “Para uma menina com uma flor” que têm abrigado meu coração em suas antiquadas páginas amarelas pertenceu à avó do Tales, contém postais antigos e um autógrafo legítimo do poetinha em uma de suas primeiras edições. Sem sensibilidade ou comoção alguma, afanei-o e trouxe comigo, mas terei de devolve-lo o mais breve possível e este seu presente com esta trajetória e este significado, facilitarão – e muito – este desprendimento. À propósito, estou lendo novamente. Fico feliz em saber que continuas indo à casa da dona Maria Baiana e contento-me mais ainda ao saber que fui a sua porta. Mande-me notícias, abraços à todos e obrigada por espreitar minhas súplicas e atender aos meus pedidos.
Aguardo por estas novas ondas que estão por vir e prometo escrever em breve.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

.. e as gordinhas um alvoroço

É fato que, de forma tênue, engordei. Essa tribulação persiste desde o último mês, quando notei que minhas bochechas e joelhos estavam gorduchos. Não é lá grandes coisas, mas precisamos parar por aí. Resultado da atribuição de algo suspeito que existe na comida inglesa – até mesmo na orgânica – à minha infinita gula diária. Neusa Maria, Carlos Galhardo e Nelson Gonçalves me fazem relembrar dos almoços fartos de domingo na casa de meus avós, com direito à tirar a soneca da tarde de bucho pro ar - para a comida não pesar - e finalizar o dia com uma enorme pizza santista, sem engordar um sequer quilograma. Aqui não tenho mais do que o café da manhã, almoço, lanche da tarde, jantar e um cappucino, coisa mais do que normal em minha natural vida brasileira. Preciso refletir e cortar certas coisas, senão, serei uma gordinha infeliz. Não esqueça que vivo em um mundo poético onde flores do campo e andorinhas trazem à minha aurora ensolarada até nos piores dias de chuva, portanto acredito que essa espécie pode viver em felicidade, mas nessa situação de carência, tornar-se gorducha só traria mais e mais distância. A boa nova é que está faz muito frio lá fora, por isso todos saem em seus enormes casacos, fazendo de todos um só segmento uniforme. Desculpo-me, mas a eloqüencia saiu de meu controle. Agora distraio-me com o sol, as marchinhas e sambinhas de Alberto Ribeiro e Almirante e meu copo de água – pois dizem que beber muita água por dia emagrece, não? Estou preguiçosa e falta-me dinheiro, por isso pouparei minhas energias e meu dinheiro nesta tarde para comparecer à boemia.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

"(...) Tem de ser forte, como o bem
Que a gente tem pelo Brasil
Tem de ser doce, como o amor
Que a gente tem pelo Brasil

Você, seu moço estrangeiro
Só põe açúcar se quer
Mas sendo um bom brasileiro
O seu café vai ser doce
Como se fosse um carinho
O seu café vai ser doce
Como se fosse um beijinho
De uma mulher
Que faz um bom café
Lá no Brasil! Lá no Brasil!"

"Cancioneiro"

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Outono

Seria consentâneo pedir-lhe desculpas pela tristesa contagiosa dos obsoletos dias anteriores. Vivo em um mundo leviano entre tempestades e auroras pacifistas. A preocupação alheia mostrou-se presente em meus desabafos e a felicidade voltou.


Tomei nota que fazem cerca de três ou quatro dias que o outono resolveu dar as caras. Hoje não temos folhas secas caídas de uma mangueira pelo chão, mas temos – também lindas - folhas de plátano quase congeladas. Não Rio antigo, não brasileiro, mas delicioso e quebrante. Caboclo, o frio chegou e por conseqüência a gripe também. Agora faz sol em minha janela, mas o ambiente externo está para três casacos e uma rain jacket, pois além de tudo, a chuva é imprevisível. Compreendi à pouco também que o ano está chegando ao fim e que, mesmo com toda essa distância de casa, terei ótimas lembranças deste. A baixa temperatura torna-se agradável e bela entre toda sua desagradabilidade natural. Esta cidade está ficando mais graciosa à cada dia que chega. Meus lábios e bochechas avermelharam, meus dedos e ouvidos congelaram, nariz entupiu e meu veemente coração acelerou. Línguas serão queimadas em zilhões de diários capuccinos e chás. Luzes natalinas começam a surgir pelos cantos, abraços e conversas são mais valorizados dentro de finos casacos e botas, deixando o cobertor para o segundo encontro. “Botas...as botas apertadas são uma das maiores venturas da terra, porque, fazendo doer os pés, dão azo ao prazer de as descalçar”. O outono inglês é romântico, como Machado de Assis – literalmente falando. Canções de “Canção do amor demais” executadas ao vivo em um bar quentinho ao anoitecer. Romântico... outono.


Para acompanhar esta animosa estação e para ocupar o espaço deixado nesses vagos luares comprei farofa, pipoca, chá de camomila, risoles de camarão e polpa de caju. Gastei pouco, sinto-me bem. Comprei novos agasalhos, que sinto não ser suficiente – terei de gastar mais. Decidi o curso que farei, mas além de salvar uma boa quantia em dinheiro – o que me privará de diversos passeios agradáveis – terei de aprender alguns novos instrumentos e programas antes de inicia-lo. Estou disposta.


Tirei uma hora de meu expediênte para escrever. Ainda não supri toda a necessidade, mas já aliviou alguns de meus pensamentos.
“Eles passarão. Eu passarinho!”

Um beijo.