domingo, 8 de fevereiro de 2009

aiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiai

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Varanda

Projetar o entusiasmo poético ente à algum lugar particular, de conhecida existência sem erudição. Graus negativos neste alpendre, visto moleton e chinelos acompanhados de suaves cigarros brasileiros e reles idéias de amor. Cartas jamais enviadas e aquela vontade de entorpecer esse momento para o sempre. Sempre não, almejo voltar o mais breve possível. Sonho tanto com o lar!

Somos dois, eu e o amigo Daniel absorvendo o sereno aqui de fora, com nossos respectivos tabacos e fones de ouvido. Acho engraçado e memorável, por mais que não seja. Ele foge do frio e eu já nem dou mais importância. Meu velhinho, Aurélio, descabela-se em suas bodas de prata ao vento.

Estou pobre. Não há mais dinheiro nem para o café. Bom voltar à trabalhar… o tempo vago ganha valor. Quase não há um cidadão nas ruas, mas ainda escuto frases em espanhol. Porque as pessoas gostam tanto de espanhol? Acho bonito. Bonito como as árvores que já estão secas por completo e ficam ainda mais formosas com as notícia frescas deste fim de tarde. Uma entrevista de emprego para a próxima manhã e a vovó que já saiu do hospital. Cheiro maravilhoso de pão com ovo, a pobreza mais nobre que existe - preparado com carinho pelo Daniel neste exato momento. Os flocos de neve estão à comer meu papel então serei obrigada à deixar-te, luar minguante - que aqui no emisfério norte já nem sei mais o que és.

Cuide de minha avózinha para que não nos assuste mais assim. Cuida dos meus queridos amigos, dos seus amigos, de minha saúde, dos meus pulmões, da minha cabeça e do meu coração, que anda ancioso à espera de algo que finjo não saber o que é. Enriquece meu português, que a situação está crítica. Cuida também para que os doces floquinhos de neve continuem a dar graça à esse frio cortante.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Mesmo com todos os desarranjos ocasionados pela insuficiência financeira, pelo estorvo à luz solar, por esse desmazelo da independência e toda a comilança cotidiana, hoje amei-me ao espelho e sorri. Acho excelente!

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Large with chocolate on top

Olhos azuis profundos como a imersão em mar aberto no crepúsculo matutino em fim de estação. Deves ter pouco mais de dez anos à minha idade, quem há de saber? Sorriso trivial, mas sempre dá as caras por onde há gente. A barba por fazer acompanha o corte moderno do cabelo castanho claro de alguém que um dia nasceu louro. Uma pequena pança, acredito que proporcionada pela quantidade de verões já congregados, dá formosura ao resto de fisionomia impecável que junto a compostura insinuante do cara-nada-tímido-amigo-geral-da-nação-boa-pinta-camarada-bom-de-cama, afaga o coração de raparigas em flor, como eu e de tantas outras margaridas plantadas no fim dos anos setenta. Tocas Jorges, Pixingas, Elises e Paulinhos da Viola em um lugar onde nenhuma das almas presentes importam-se com a genialidade destes, apenas eu. Apenas eu.
Hoje encontrei-te desfrutando um café em toda a sua intelectualidade. Pedi um capuccino - large with chocolate on top - alojei-me no assento de frente à seu reflexo no vidro lateral, abri o Caio Fernando Abreu - presente de aniversário de mamãe - na espera de qualquer movimento. Passaram-se uma hora e trinta minutos. Findei o café, ensejei e pensei que talvez fosse mais imeterato deixa-lo, voltar para casa e namorar minha solidão.
À seu consentimento, penso, sou apenas uma menina interessante aos seus recém completados sete mil e trezentos dias de vida em um visual quase masculino - se não fosse pela suave maquiagem feminina - com propensão à fofura e conversa amigável em seus flertes discretos, talvez até mais recatados do que os de todas as outras.
Tenho certeza que contentaria-se ao conhecer-me melhor, como na vez em que contei sobre o apreço que tenho por Jefferson Airplane. Sentiria-se o guri mais feliz do planeta ao adentrar meu recanto, deparar-se com os pôsteres pra mais de metro do Led ou Yellow Submarine, escolher o Jazz de Eddie Condon e depois a sua favorita, Astrud, deitando-se de bucho para cima em meu carpete cor de grafita, como em seus passados vinte anos.
“Ai, menina. Se eu tivesse vinte anos, dispensaria sua companheira e fugiria pro aconchego do teu lar. Deitaria-te em meu peito onde o coração bate acelerado. Apertadinho, juntinho, assim entre cheiros de seu Marlboro Light, minha cigarrilha, seu doce Salvador Dali e o meu perfume de homem em fim de Outono. Te lecionaria na arte dos botões, mixagens e produções, que você ainda está a aprender. Me cantarias algum Vinícius ou Caetano ao violão e eu a acompanharia com a doce escaleta vermelha - que não haveria de caber melhor à você. Passariamos frio na varanda, sem nada mais importar pois temos luzes natalinas e sorvetes de crème com chocolate. Arremessaríamos bitucas de cigarro sob a cabeça de senhoras negras à passar pela rua ao entardecer, por acidente e correríamos para o lado de dentro, usando o fato como desculpa, mas na verdade tendo como maior razão a atração sem idade dos corpos desbotados em cor pela distância da pátria mãe gentil. Sairíamos atrasados para o lugar onde sou empregado e você finge que aprende algo com o Barba Ruiva, sem caber de imaginar à ninguém o que se passa em nossa poesia.
Ah, pequena… Cuida do que é teu. Tenho um filho e uma vida já pronta para cuidar. Você despencou de pára-quedas neste mundo. Aproveita e fica bem que o mundo ainda é bem maior que tudo isso”.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Depravando o romantismo

Tenho como costume uma excessiva capacidade de depravar qualquer tentativa de romantismo. Logo eu, que sou tão romântica! Está certo que aqui nos terrenos da Dona Elizabete os indivíduos quase nunca tomam algum tipo de iniciativa, mas eu também não dou um quinhão. Em todas as tentativas que qüiproquó, mesmo nas sucedidas – que cá entre nós, são de grande maioria devido à tamanha formosura desta donzela que vos fala – acumulo memoráveis instantes opróbrios. Todas as alvoradas conseguintes levam-me de volta à quebra da espera. Necessito de mais paciência. Sempre gabei-me diante aos outros por alcançar quem quer que estivesse à meu desejo, mas soberbo seria se as pessoas me quisessem antes da invasão. É mais forte do que eu... Um dia aprendo.

domingo, 9 de novembro de 2008

Cadê?

Dias formosos e disformes, joviais e lastimosos, satisfatórios e desgostosos. Sigo em hesitantes linhas babélicas que tiram-me a capacidade de suscitar, deixando-me sem chão. A apetência de escrever caminha junto à todos os meus momentos cotidianos, mas as idéias estão vazias. Estou à procura de inspiração. Cadê você? É próximo de estar surdo. Ao menos não estou surda e posso ouvir com carinho entre um vazio e outro ao novo projeto do nosso Ruivo. O sol já não se põe mais e todas as folhas já estão pelo chão. Comprei flores para mim e para mamãe para ver se os caminhos resolvem aparecer menos tímidos. Acontece...

domingo, 26 de outubro de 2008

Análise

Da janela deste café descortino as vidas que passam menos barulhentas e menos coloridas. Padecem cigarros, passam crianças, pobreza, riqueza, beleza, estranheza restitue-se em natureza e a violência até parece estar distante. Ficaria por horas analizando-os neste exato slow-motion ao som de Dion em especial natalino, com luzes coloridas perfazendo o cenário. Sinto borboletas no estômago, não desfruto do medo e muito menos do frio.

Aquele rapaz em especial, sapatos caramelados, gola do paletó para cima, charmosos cabelos bagunçados pelo namoro dos ventos lá fora, à cobrir as orelhas, numa simplicidade refinada. Tão alinhado, que mesmo sem um exato propósito, acaba induzindo sentido à garbosos e adocicados corações por esses longos e infinitos minutos que ficas à esperar pelo teu café com leite – tamanho grande. Bochechas magras e avermelhadas. Notei que usas uma jóia no dedo anelar: Deves pertencer à algum sortudo e compor-lhe cantigas ao violão – sei que és músico – colocando à mostra estas doces covinhas de timidez, assim como fizeste agora para mim, por acanhar-se ao saber que és assim tão encantador. Três envelopes de açucar branco e um copo de água em temperatura ambiente ao final, como eu. Não é mera semelhança. Queres arrancar-me suspiros apaixonados em plena tarde de sexta-feira. Sorri e mostra novamente às solitárias covas em um lindo canto de adeus. Parte pela porta da frente, levando à Oxford Street um pouco de esmero, mas tornando-se apenas mais um no povaréu.