domingo, 26 de outubro de 2008

Análise

Da janela deste café descortino as vidas que passam menos barulhentas e menos coloridas. Padecem cigarros, passam crianças, pobreza, riqueza, beleza, estranheza restitue-se em natureza e a violência até parece estar distante. Ficaria por horas analizando-os neste exato slow-motion ao som de Dion em especial natalino, com luzes coloridas perfazendo o cenário. Sinto borboletas no estômago, não desfruto do medo e muito menos do frio.

Aquele rapaz em especial, sapatos caramelados, gola do paletó para cima, charmosos cabelos bagunçados pelo namoro dos ventos lá fora, à cobrir as orelhas, numa simplicidade refinada. Tão alinhado, que mesmo sem um exato propósito, acaba induzindo sentido à garbosos e adocicados corações por esses longos e infinitos minutos que ficas à esperar pelo teu café com leite – tamanho grande. Bochechas magras e avermelhadas. Notei que usas uma jóia no dedo anelar: Deves pertencer à algum sortudo e compor-lhe cantigas ao violão – sei que és músico – colocando à mostra estas doces covinhas de timidez, assim como fizeste agora para mim, por acanhar-se ao saber que és assim tão encantador. Três envelopes de açucar branco e um copo de água em temperatura ambiente ao final, como eu. Não é mera semelhança. Queres arrancar-me suspiros apaixonados em plena tarde de sexta-feira. Sorri e mostra novamente às solitárias covas em um lindo canto de adeus. Parte pela porta da frente, levando à Oxford Street um pouco de esmero, mas tornando-se apenas mais um no povaréu.