
Aqui, começo a escrever a minha primeira historinha contada diretamente das terras inglesas. Tentei várias vezes iniciar meus textos. Não tive tempo - talvez até tivesse, mas não houve disposição.
Não encontro palavras para tal explicação, mas hoje estou proseando demais e penso que esse estado pode estar relacionado a solidão de todo dia. Está ficando tarde, todos as pessoas queridas do Brasil querem saber de minha existência e do meu êxito por esses lados... o que me leva a indolência. Prometo ser breve, como sempre.
Meus dias têm sido embaraçados. Acordo com os galos pela manhã – maneira de dizer, pois acordo bem cedo – e faço uma caminhada de aproximadamente dois quartos de hora para levar a pequena à “nursery”. Cuido da casa, do cachorro – somando mais alguns dois ou três quilometros - e de minhas coisas favoritas até a hora de busca-la em mais uma caminhada das longas. Até a próxima semana tenho as tardes e noites livres para poder explorar o novo ambiente, mas é o que eu pouco tenho feito. Tem uma biblioteca pública muito boa aqui do lado de casa, o que torna minha leitura em inglês mais interessante. Ainda tenho um pedaço de medo dentro de mim que não faz questão nenhuma de esconder-se.
Comprei um toca-discos moderno dia desses por algumas libras esterlinas, graças à invenção da venda de produtos baratos na internet, mas ainda não chegou. Estou anciosa... Basta agora apenas adquirir os novos discos. Temos bons discos por aqui, mas terei de encomendar meus queridos sambas.
É curioso viver em uma cidade cosmopolita como essa, onde anda-se de ônibus e entre as conversas cotidianas de passageiros, ninguém fala a língua local. Parecemos estar no meio de alienígenas, ou sermos um deles talvez. Tenho preferência por passeios de ônibus à metrôs e trens – realmente caros: sinto-me mais livre e posso observar o que acontece ao meu redor.
Viagem:
Estive por três longos dias na região de Norfolk, no litoral da Inglaterra. Para ser mais específica, em uma vila de pescadores chamada Blakney. Fez sol por alguns instantes, meus pensamentos, como à poucos minutos atrás, vinham em inglês. Escrevi algumas boas páginas à punho em minha fiel agenda, inspirada pelo barulho do vento, os passos na grama e o ambiente cinematográfico. As consciência deixa o meu corpo por singelos momentos e as vezes pareço esquecer se estive, estou ou não estou. Lugar estranho, pessoas estranhas em movimentos talvez censuráveis. Nova rotina. Não é complexo: é a mera conclusão de que não é possivel manter-se em si durante todo o período de convivência com desconhecidos de frente para o oceado deparando com focas selvagens por toda a beira do mar. Sim, focas! A minha verdade encontra-se à longos quilômetros daqui. Inexplicavelmente começo a sentir-me em casa e fico feliz em estar nessa nova experiência. Comida mexicana, comida light, pão, ovos mechidos, macarrão e churrasco – de hamburguer, mas churrasco. Os passaros são outros, as flores são outras, o ar é outro, a educação é outra e a poesia é outra. Ai poesia, que saudades de você. Que saudades da literatura brasileira que bateu lá longe, na lama da minha viagem. Li coisas ao sumir do sol, em português e em inglês nos meus momentos de paz na parte de baixo do beliche da “Caravan” onde ficamos hospedados, mas nada de muito interessante. Longos cochilos, manhãs frias, cheias de lama e com muito vento nos acordaram por dois dias. Campos molhados, devido à tempestade que durou a noite inteira... Muita preguiça. Torcer para o tempo melhorar para poder pegar a bicicleta e sair afora por esses imensos pedaços de terra não-civilizados à procura de algo que nem eu mesma sei o que é. Confuso, eu sei, mas a minha cabeça não tem trabalhado com muito sentido. Amor? Talvez seja o que o meu coração precise. Chove, chove, chove e em um breve cochilo sonho com mamãe e alguns amigos do meu Brasil. Não nomearia “saudade”, pois fazem poucos dias que estou em novas terras, mas sim diria que esses fantasmas vem me acompanhar na tentativa de ocupar o espaço em meu peito causado pela ausência de pessoas a quem se quer muito ao meu lado. Longos minutos, paredes, janela, papel e vazio. Não pude escrever. Talvez fosse melhor voltar à Londres. Falo em vários tempos. Leio Fernanda Takai em seus contos e crônicas que ganhei de meus pais, mas infelizmente - em minha opinião - ela não é uma boa escritora. Quem sou eu para julgar algum escrevedor? Não foi uma boa companheira, mas ainda tenho paixão por sua interpretação. Domingo, comi um delicioso pão com manteiga e bacon pela manhã e voltei para a parte de baixo do beliche. A chuva passou, fez frio e poderia chover a qualquer instante. Penso um pouco nos domingos de casa, café em família, faxina em família, almoço na casa da vó Nice com suas comidinhas maravilhosas, cochilo, cinema e no final a fiel pizza com infinitos diálogos aleatórios. Velejei, andei em praias de pedras e lama e enfim, voltamos.
Uma observação final: Só percebemos o quanto amamos a nossa nação quando estamos longe dela. Pode soar desusado, mas é o que acontece – ou pelo menos aconteceu com a minha identidade.
Meu português está fraco, preciso ler mais.