domingo, 31 de agosto de 2008

Alvorada enfadonha de domingo

Os momentos mais dolorosos dessa nova vida têm encontrado-se nas alvoradas de domingo, como esta de hoje, chuvosa, enfadonha e cinza. Relembro mais uma vez de casa em uma chuva macia de pensamentos, o que me faz chorar. Os dias têm sido afáveis e o universo está conspirando a meu favor, mas esse estado desprovido de meu coração está deixando-me sem vitória na batalha com a tristeza. Ai, me bateu uma vontade de ouvir “Valsinha” do Chico no original “Construção” que está lá no meu armário de porta branca, mas contento-me com o que a tecnologia me proporciona.
E foi tanta felicidade que toda a cidade se iluminou – por alguns instantes.
Já sinto-me mais animosa, devido à ligação que recebi de um amigo – talvez o único ou um dos únicos que eu tenha aqui – confirmando um passeio no dia de hoje. Encontrei umas relíquias navegando por aqui, estou até com uma cor mais saudável, Tatamirô. É o velho Omulu Atotô Obaluaê... e as pessoas ainda me perguntam porque eu tenho tanto apreço pelo poetinha. Hoje, acalmou meu coração com suas canções relacionadas à Umbanda, amanhã talvez suas cartas de amor me levem à um estado considerável consistente. Sei lá, sei lá, só sei que é preciso paixão, sei lá, sei lá, a vida tem sempre razão.

Iremos à uma feira de coisas baratas – famosa e cheia de gente à qualquer situação – e iremos assistir alguma apresentação ao vivo da juventude britânica. Parece interessante.

É difícil colocar em palavras, mas sinto-me muito melhor agora.
Cuíca, pandeiro, clarinete e violão é o que eu desejo à vocês, no caso de uma manhã como a minha. Quando o amanhã chegar eu escrevo sobre o meu fim de semana, pois agora estou saciada.
Tchau!

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Diário de bordo

Aqui, começo a escrever a minha primeira historinha contada diretamente das terras inglesas. Tentei várias vezes iniciar meus textos. Não tive tempo - talvez até tivesse, mas não houve disposição.

Não encontro palavras para tal explicação, mas hoje estou proseando demais e penso que esse estado pode estar relacionado a solidão de todo dia. Está ficando tarde, todos as pessoas queridas do Brasil querem saber de minha existência e do meu êxito por esses lados... o que me leva a indolência. Prometo ser breve, como sempre.
Meus dias têm sido embaraçados. Acordo com os galos pela manhã – maneira de dizer, pois acordo bem cedo – e faço uma caminhada de aproximadamente dois quartos de hora para levar a pequena à “nursery”. Cuido da casa, do cachorro – somando mais alguns dois ou três quilometros - e de minhas coisas favoritas até a hora de busca-la em mais uma caminhada das longas. Até a próxima semana tenho as tardes e noites livres para poder explorar o novo ambiente, mas é o que eu pouco tenho feito. Tem uma biblioteca pública muito boa aqui do lado de casa, o que torna minha leitura em inglês mais interessante. Ainda tenho um pedaço de medo dentro de mim que não faz questão nenhuma de esconder-se.

Comprei um toca-discos moderno dia desses por algumas libras esterlinas, graças à invenção da venda de produtos baratos na internet, mas ainda não chegou. Estou anciosa... Basta agora apenas adquirir os novos discos. Temos bons discos por aqui, mas terei de encomendar meus queridos sambas.
É curioso viver em uma cidade cosmopolita como essa, onde anda-se de ônibus e entre as conversas cotidianas de passageiros, ninguém fala a língua local. Parecemos estar no meio de alienígenas, ou sermos um deles talvez. Tenho preferência por passeios de ônibus à metrôs e trens – realmente caros: sinto-me mais livre e posso observar o que acontece ao meu redor.

Viagem:
Estive por três longos dias na região de Norfolk, no litoral da Inglaterra. Para ser mais específica, em uma vila de pescadores chamada Blakney. Fez sol por alguns instantes, meus pensamentos, como à poucos minutos atrás, vinham em inglês. Escrevi algumas boas páginas à punho em minha fiel agenda, inspirada pelo barulho do vento, os passos na grama e o ambiente cinematográfico. As consciência deixa o meu corpo por singelos momentos e as vezes pareço esquecer se estive, estou ou não estou. Lugar estranho, pessoas estranhas em movimentos talvez censuráveis. Nova rotina. Não é complexo: é a mera conclusão de que não é possivel manter-se em si durante todo o período de convivência com desconhecidos de frente para o oceado deparando com focas selvagens por toda a beira do mar. Sim, focas! A minha verdade encontra-se à longos quilômetros daqui. Inexplicavelmente começo a sentir-me em casa e fico feliz em estar nessa nova experiência. Comida mexicana, comida light, pão, ovos mechidos, macarrão e churrasco – de hamburguer, mas churrasco. Os passaros são outros, as flores são outras, o ar é outro, a educação é outra e a poesia é outra. Ai poesia, que saudades de você. Que saudades da literatura brasileira que bateu lá longe, na lama da minha viagem. Li coisas ao sumir do sol, em português e em inglês nos meus momentos de paz na parte de baixo do beliche da “Caravan” onde ficamos hospedados, mas nada de muito interessante. Longos cochilos, manhãs frias, cheias de lama e com muito vento nos acordaram por dois dias. Campos molhados, devido à tempestade que durou a noite inteira... Muita preguiça. Torcer para o tempo melhorar para poder pegar a bicicleta e sair afora por esses imensos pedaços de terra não-civilizados à procura de algo que nem eu mesma sei o que é. Confuso, eu sei, mas a minha cabeça não tem trabalhado com muito sentido. Amor? Talvez seja o que o meu coração precise. Chove, chove, chove e em um breve cochilo sonho com mamãe e alguns amigos do meu Brasil. Não nomearia “saudade”, pois fazem poucos dias que estou em novas terras, mas sim diria que esses fantasmas vem me acompanhar na tentativa de ocupar o espaço em meu peito causado pela ausência de pessoas a quem se quer muito ao meu lado. Longos minutos, paredes, janela, papel e vazio. Não pude escrever. Talvez fosse melhor voltar à Londres. Falo em vários tempos. Leio Fernanda Takai em seus contos e crônicas que ganhei de meus pais, mas infelizmente - em minha opinião - ela não é uma boa escritora. Quem sou eu para julgar algum escrevedor? Não foi uma boa companheira, mas ainda tenho paixão por sua interpretação. Domingo, comi um delicioso pão com manteiga e bacon pela manhã e voltei para a parte de baixo do beliche. A chuva passou, fez frio e poderia chover a qualquer instante. Penso um pouco nos domingos de casa, café em família, faxina em família, almoço na casa da vó Nice com suas comidinhas maravilhosas, cochilo, cinema e no final a fiel pizza com infinitos diálogos aleatórios. Velejei, andei em praias de pedras e lama e enfim, voltamos.

Uma observação final: Só percebemos o quanto amamos a nossa nação quando estamos longe dela. Pode soar desusado, mas é o que acontece – ou pelo menos aconteceu com a minha identidade.

Meu português está fraco, preciso ler mais.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

A inquietação corre em meu corpo como o coração de brasileiro em baile de carnaval e minhas pernas dançam em um movimento involuntário contínuo. Não tenho medo, mas a única coisa que tem ocupado meus pensamentos é esta partida. As olimpíadas rolando aqui atrás, uma pilha de coisas para resolver e um início de dor de garganta. Vou voltar ao Érico de toda noite, vos deixo com o Vininha – de todo dia – e com a ilustração de Norfolk, meu destino em nove dias.

“Na árvore em frente
Eu
terei mandado instalar um alto-falante com que os passarinhos
Amplifiquem seus alegres cantos para o teu lânguido despertar.
Acordarás feliz sob o lençol de linho antigo
Com um raio de sol a brincar no talvegue de teus seios
E me darás a boca em flor; minhas mãos amantes
Te buscarão longamente e tu virás de longe, amiga
Do fundo do teu ser de sono e plumas
Para me receber; nossa fruição
Será serena e tarda, repousarei em ti
Como
o homem sobre o seu túmulo, pois nada
Haverá fora de nós. Nosso amor será simples e sem tempo.
Depois saudaremos a claridade. Tu dirás
Bom dia ao teto que nos abriga
E ao espelho que recolhe a tua rápida nudez.
Em seguida teremos fome: haverá chá-da-índia
Para matar a nossa sede e mel
Para adoçar o nosso pão. Satisfeitos, ficaremos
Como dois irmãos que se amam além do sangue
E fumaremos juntos o nosso primeiro cigarro matutino.
Só então nos separaremos. Tu me perguntarás
E eu te responderei, a olhar com ternura as minhas pernas
Que o amor pacificou, lembrando-me que elas andaram muitas léguas de mulher
Até te descobrir. Pensarei que tu és a flor extrema
Dessa desesperada minha busca; que em ti
Fez-se
a unidade. De repente, ficarei triste
E solitário como um homem, vagamente atento
Aos ruídos longínquos da cidade, enquanto te atarefas absurda
No teu cotidiano, perdida, ah tão perdida
De mim. Sentirei alguma coisa que se fecha no meu peito
Como pesada porta. Terei ciúme
Da luz que te configura e de ti mesma
Que te deixas viver, quando deveras
Seguir comigo como a jovem árvore na corrente de um rio
Em demanda do abismo. Vem-me a angústia
Do limite que nos antagoniza. Vejo a redoma de ar
Que te circunda – o espaço
Que separa os nossos tempos. Tua forma
É outra: bela demais, talvez, para poder
Ser totalmente minha. Tua respiração
Obedece a um ritmo diverso. Tu és mulher.
Tu tens seios, lágrimas e pétalas. À tua volta
O ar se faz aroma. Fora de mim
És pura imagem; em mim
És como um pássaro que eu subjugo, como um pão
Que eu mastigo, como uma secreta fonte entreaberta
Em que bebo, como um resto de nuvem
Sobre que me repouso. Mas nada
Consegue arrancar-te à tua obstinação
Em ser, fora de mim – e eu sofro, amada
De não me seres mais. Mas tudo é nada.
Olho de súbito tua face, onde há gravada
Toda a história da vida, teu corpo
Rompendo em flores, teu ventre
Fértil. Move-te
Uma infinita paciência. Na concha do teu sexo
Estou eu, meus poemas, minhas dores
Minhas ressurreições. Teus seios
São cântaros de leite com que matas
A fome universal. És mulher
Como folha, como flor e como fruto
E eu sou apenas só. Escravizado em ti
Despeço-me
de mim, sigo caminhando à tua grande
Pequenina sombra. Vou ver-te tomar banho
Lavar de ti o que restou do nosso amor
Enquanto busco em minha mente algo que te dizer
De estupefaciente. Mas tudo é nada.
São teus gestos que falam, a contração
Dos lábios de maneira a esticar melhor a pele
Para passar o creme, a boca
Levemente entreaberta com que mistificar melhor a eterna imagem
No eterno espelho. E então, desesperado
Parto de ti, sou caçador de tigres em Bengala
Alpinista
no Tibet, monje em Cintra, espeleólogo
Na Patagônia. Passo três meses
Numa jangada em pleno oceano para
Provar a origem polinésica dos maias. Alimento-me
De plancto, converso com as gaivotas, deito ao mar poesia engarrafada, acabo
Naufragando nas costas de Antofagasta. Time, Life e Paris-Match
Dedicam-me enormes reportagens. Fazem-me
O "Homem do Ano" e candidato certo ao Prêmio Nobel.
Mas eis comes um pêssego. Teu lábio
Inferior dobra-se sob a polpa, o suco
Escorre pelo teu queixo, cai uma gota no teu seio
E tu te ris. Teu riso
Desagrega os átomos. O espelho pulveriza-se, funde-se o cano de descarga
Quantidades insuspeitadas de estrôncio-90
Acumulam-se nas camadas superiores do banheiro
Só os genes de meus tataranetos poderão dar prova cabal de tua imensa
Radioatividade. Tu te ris, amiga
E me beijas sabendo a pêssego. E eu te amo
De morrer. Interiormente
Procuro afastar meus receios: "Não, ela me ama..."
Digo-me, para me convencer, enquanto sinto
Teus seios despontarem em minhas rnãos
E se crisparem tuas nádegas. Queres ficar grávida
Imediatamente. Há em ti um desejo súbito de alcachofras. Desejarias
Fazer o parto-sem-dor à luz da teoria dos reflexos condicionados
De Pavlov. Depois, sorrindo
Silencias. Odeio o teu silêncio
Que não me pertence, que não é
De ninguém: teu silêncio
Povoado de memórias. Esbofeteio-te
E vou correndo cortar o pulso com gilete-azul; meu sangue
Flui como um pedido de perdão. Abres tua caixa de costura
E coses com linha amarela o meu pulso abandonado, que é para
Combinar bem as cores; em seguida
Fazes-me
sugar tua carótida, numa longa, lenta
Transfusão. Eu convalescente
Começas a sair: foste ao cabeleireiro. Perscruto em tua face. Sinto-me
Traído, delinqüescente, em ponto de lágrimas. Mas te aproximas
Só com o casaco do pijama e pousas
Minha mão na tua perna. E então eu canto:
Tu és a mulher amada: destrói-me! Tua beleza
Corrói minha carne como um ácido! Teu signo
É o da destruição! Nada resta
Depois de ti senão ruínas! Tu és o sentimento
De todo o meu inútil, a causa
De minha intolerável permanência! Tu és
Uma contrafação da aurora! Amor, amada
Abençoada sejas: tu e a tua
Impassibilidade. Abençoada sejas
Tu que crias a vertigem na calma, a calma
No seio da paixão. Bendita sejas
Tu que deixas o homem nu diante de si mesmo, que arrasas
Os alicerces do cotidiano. Mágica é tua face
Dentro da grande treva da existência. Sim, mágica
É a face da que não quer senão o abismo
Do ser amado. Exista ela para desmentir
A falsa mulher, a que se veste de inúteis panos
E inúteis danos. Possa ela, cada dia
Renovar o tempo, transformar
Uma hora num minuto. Seja ela
A que nega toda a vaidade, a que constrói
Todo o silêncio. Caminhe ela
Lado a lado do homem em sua antiga, solitária marcha
Para o desconhecido – esse eterno par
Com que começa e finda o mundo – ela que agora
Longe de mim, perto de mim, vivendo
Da constante presença da minha saudade
É mais do que nunca a minha amada: a minha amada e a minha amiga
A que me cobre de óleos santos e é portadora dos meus cantos
A minha amiga nunca superável
A minha inseparável inimiga.”

domingo, 10 de agosto de 2008

Notinha

Boa noite.
Pode soar desusado dizer que realmente me diverti na noite passada com os meus mesmos amigos de sempre em um lugar onde todas as pessoas se conhecem – menos nós. Cidadãos chistosos, jovens – muitas vezes até mais jovens do que imaginamos – indecisos e com as cabeças mais fechadas desta geração. Juntam-se em bandos, misturam uma tentativa de funk-mal-feito com um hardcore melódico que teve bom êxito à alguns bons anos. Não estou falando mal dos intérpretes, simplesmente acho que faltam boas idéias, boas aulas e uma boa produção. Para completar, no final das apresentações, não se sabe lidar com a situação, pois não é da natureza de quase nenhum presente dançar e todos migram juntos para outro chão sem usufruir um segundo deste. Contudo, foi muito animado desde o início da sobriedade até às falsidades e algumas verdades embriagadas trocadas no fim da noite. Revi pessoas que não são nem nunca serão minhas amigas, mas que mesmo assim deixam saudades de alguns momentos passados juntos. Conheci pessoas, como sempre e essa é a parte mais interessante.

Sentei-me aqui para contar uma longa e incompreendida história, mas acabei me perdendo no tempo, agora minha avó quer dormir e não poderei mais redigir estes pensamentos. De qualquer forma, estou para escrevê-la faz tempo, portanto em breve tentarei empenhar-me nela.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Música ao longe

Meu toca-discos está gracejando com a minha cara e quando eu mais careço de sua companhia ele para de funcionar. Troco então o reggae pelo samba da Marisa – não Maísa – para escrever-te mais uma vez.

Através de Clarissa, criatura de Érico Veríssimo, descobri Paulo Madrigal - poeta até no nome - que disse assim: “O amor que ainda não se definiu é como uma melodia do desenho incerto. Deixa o coração a um tempo alegre e perturbado e tem o encanto fugidio e misteriosos de uma música ao longe...”. E não é que o poetinha entende mesmo do assunto? Para os leigos, o poetinha de Clarissa é outra criação do nosso famoso escritor, já citado.


Mudando de assunto, domingo despertou-me a memória de Joice, minha amiga de outrora que se casou, aprontou as malas e migrou para o sul do país deixando São Paulo com o vazio de sua ausência. Não é hábito citar o nome dos personagens de minha história neste diário – que deveria chamar-se semanário - pois não é de meu agrado esse tipo de asseveração, mas este caso é específico e especial. Meu contentamento é grandioso ao lembrar das maratonas na terra da garoa compostas pela freqüência na faculdade, mesmo que fosse para dormir e recuperar as energias para mais um dia, pelas tardes de atividades complementares em locais como o Museu da Língua Portuguesa e a Pinacoteca do Estado, pelas noites ferventes da capital regadas a cortesias, camarotes, open-bar, fartura de maconha no banheiro, só nossa, e muitas risadas. Sinto-me velha ao lembrar desses dias, pois noto hoje me falta disposição – amigos, dinheiro e tempo talvez. Vale lembrar que não menos especial era ir de encontro com a alvorada no Anhangabaú, comer uma coxinha frita – a mais famosa da cidade – admirando o dia chegando e trazendo com ele a beleza e a loucura do Centro Histórico para depois partirmos de volta para a periferia da Zona Leste, o local mais aconchegante – e distante – que alguém poderia me oferecer para algumas horas de sono no fim da jornada: domingo. Esse pedacinho de texto foi feito como um desabafo, pra te agradecer e dizer que sinto a sua falta Joice, mesmo que você nunca chegue próximo de ler isso tudo.

Nossa... Quase que me esqueço de relatar o que me ocorreu neste mesmo domingo. Pode-se dizer que foi um dia sem-sorte, apenas isso, mas rendeu boas histórias. Fui para a capital de ônibus, peguei o metrô, encontrei uma colega e tomamos outro ônibus – por sorte vazio – sentido Santo Amaro. Para constar: Santo Amaro é Zona Sul, mas é de uma distância da pemba! Descemos na porta da faculdade, local de encontro com outra companheira e estava fechada – que instituição de ensino funciona aos domingos? – é claro. Começou a chover cada vez mais forte. Alteramos com a nossa amiga atrasada para um bar localizado umas dez quadras de onde estávamos, aguardamos ensopadas e enfim fomos rumo ao chá-de-panela. Decidimos comprar alguns pães e bolos para agradar a dona da festa, mas ao chegarmos à padaria começou a sair uma massa de ar quente cinzenta e infinita do carro. O carro tinha menos de um ano, não era dos mais baratos e possuía bancos de couro; Como isso poderia acontecer? Pois aconteceu. Compramos os doces enquanto o motor esfriava. Não era a água, não era a bateria, não era o óleo, não era nada... Era uma simples falta de sorte. O bendito ligou por alguns instantes, mas ao chegar à subida da rua, morreu. Morreu de vez não tendo como satisfeito o fato, desceu de vontade própria até o cruzamento com a avenida. Precisava-mos tirá-lo dali, mas éramos três mulheres em baixo de uma chuva nada católica. Realmente acreditamos que tínhamos a capacidade, mas não foi o bastante. Não apareceu um cidadão solidário nesse meio tempo, então fomos atrás de ajuda. Conseguimos – conseguiram – empurrar o carro de volta ao estacionamento da padaria, mas foi de decisão delas irmos andando ao chá. Era bem próximo e fomos caminhando – continuava chovendo – até que o salto da colega quebrou até que tive de acompanhar e prestar assistência a alguém descalçada descendo a ladeira. Para completar e resumir esta tragédia grega, a sacola de papelão onde estavam armazenados os presentes cedeu e o lindo galheteiro de vidro quebrou-se. Nesta confusão perdeu-se o número do prédio e tivemos que perguntar de porta em porta sobre o tal “bota dentro”. A parte hilária do meu dia terminou por aí, mas a da primeira companheira finalizou-se com o carro do pai quebrado e a da segunda com o seu próprio carro guinchado. O pior é que é tudo verdade.
*Uso muito a palavra “não” em meus textos, preciso ouvir os conselhos de MEU poetinha Vinicius e parar com isso.


Fico por aqui,
Um abraço.

sábado, 2 de agosto de 2008

Desapego

São 00h34, meus olhos pesam e em breve me entregarei ao letargo... As palavras me rodeiam como nunca. Coisa que estou para contar faz tempo é essa história de desapego. Será que alguém no mundo, com exceção dos sagitarianos, realmente tem conhecimento deste assunto? Apegar, segundo o dicionário é: Inclinação; afeição; pertinácia; aferro excessivo. Concordo com o que diz o Sr. Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, em quase tudo. Tenho o hábito de ser uma apaixonada e sofrer com os encantos dos mais diversos tipos de pessoas, o que desperta ainda mais o interesse destas. A princípio o mundo é lindo, mas com o acumular das horas, qualquer coisa parece ser mais interessante do que corresponder. Muitas vezes o consciente me faz aceitar algumas situações, como marcar um novo compromisso, pois realmente seria interessante tal diligência. Infelizmente caio na consciência tarde demais e sou obrigada a negar a verdade. Justiça seja feita: sou uma filha da puta – para falar Português claro, como diz a minha mãe. Aonde já se viu? Acredito e é fato que eu caio em amores realmente por aqueles que menos me dão atenção. Aquele tipo que te faz única, mas ao mesmo tempo mantêm a insegurança sempre presente em suas rugas. Faz-se o maior esforço do mundo para gostar do oposto, mas sempre consegue o que quer, quando quer e sem forçar a barra. Não significa dizer que a carência não me acompanhe, pelo contrário, ela está sempre presente, talvez seja preciso mais amizade. Eu havia escrito mais umas seis ou sete linhas sobre o assunto e essas foram levadas por uma ausência de energia aqui em casa, o que me provocou uma ausência de memória e uma preguiça imensa, pois escrever é escrever, de uma só vez. Escrever uma segunda vez não teria a mesma intensidade.

Ontem fui pra casa cedo e sóbria, refletindo sobre dois novos amigos que em menos de dois meses de convivência já são capazes de despertar saudades maiores do que a que sentirei de muitos antigos amigos. Minha menina, hoje já não é mais minha, ou talvez nunca tenha sido – apenas dona dos meus pensamentos – me arranca uma afinidade sem fim, com direito à sambinhas e pensamentos simultâneos. O mesmo acontece com seu já citado amigo gay, que um dia tornar-se-ia meu amigo. Não demorou muito para o seu setentismo me aliciar... Se eu digo “vem?”, a resposta é sempre “vamos!”.

Decidi organizar meus discos, encontrei clássicos da música brasileira e outros descartáveis, que preciso ganhar tempo de trocar. Entre os bons, os mais queridos foram: “Avanço” do Tamba Trio, “Dois na bossa” de Elis e Jair Rodrigues e uma coletânea que pertenceu ao meu bisavô com dez discos com o melhor da música popular da época em um box clássico.

Despeço-me novamente, desta vez como Machado de Assis, caro leitor. Sem revisar. É tarde... Hora de um copo d’agua gelado e um agradecimento por mais este dia. Cheguei ao letargo. Boa noite!

31/07

Peço desculpas pelo descuido da ausência de dissertar por estas bandas, mas estive distante do mundo real. Hospedei-me por alguns dias em beira-mar com mais alguns aliados, pouco sol, pouco alimento, pouco ouro e muito verde. Dias de indolência sem fim regados à brisas e muitos risos. Descobri que perdi algum tempo tendo apenas feito aulas de bateria, sem praticar com uma banda, o que é uma pena, mas ainda não está tudo perdido – prometo dedicar-me.

A tarde não era das mais quentes para mergulhar, mas era perfeita para um passeio nas pedras da orla até à vista que recompensaria todo o trabalho de estar lá. Chegamos com dificuldade, mas o namoro do mar com as pedras formava a espuma que ia e vinha banhando cada espaço vago, trazendo aquela paz imensa à nossos pensamentos. Com a ajuda da querida folhinha, completou-se o plano perfeito e durante alguns bons minutos não éramos mais cinco simples pessoas, mas sim o incalculável entre nuvens, em universos particulares, fora dos corpos e das coisas materiais. Éramos apenas vento e oceano. Ai, se tivéssemos o poder de eternizar esta sensação, entregaria em papel de embrulho com uma dedicatória às pessoas que mantém vivo qualquer tipo de desamor. Seria bom.

Se já não bastasse voltar após o planejado, recebi a informação de que o meu caro amigo cearense já estava a caminho de Santos e aguardava pela minha presença. Pousei na terrinha e fui às pressas ao encontro do mesmo, sem enxergar nada pela frente. Confesso que poderia passar a seu lado outras inacabáveis dezenove horas, apenas ouvindo aquele sotaque gostoso e aprendendo a enxergar beleza nas mais terríveis e pequenas coisas desta vida. Só para constar, contentei-me ao ver meus amigos quebrando o pré-conceito e contagiando-se com essa figura acolhedora.

Meu dedo indicador da mão esquerda tem um resquício de bolha, próximo à palma e outro bem à ponta, ambos gratos à música. Santa! Estou sendo chata?

Minha amada mãe de santo fez aniversário este sábado. Fizemos uma festança surpresa com o tema “anos 60”. Não foi exatamente fiel à temática, mas a intenção é o mais importante... E todos se divertiram. Quase sem dar tempo de chegar a nova aurora, já me mandei para o outro lado do oceano para despedir-me de mais uma companheira. Esta vai para a terra do Tio Sam, lugar que pouco me interessa neste momento, mas fui desejar-lhe boa-sorte, mostrar diligência e comer feijoada até sair rolando. Acabei não rolando e corri, atrasada como sempre, para o encontro dos companheiros de roquenrrol. Passamos bons bocados no condomínio high society. Basta.

PARA TUDO. Tenho uma enorme necessidade de escrever. Beatles, Dylan, Marisa, Martinho, Johnny, Hermanos, Chopin e tudo que gira em torno impulsiona essa vontade... Sinto certa dificuldade. Suspeito de algumas razões, mas sinto que preciso voltar a estar comigo, só comigo. Faltam apenas duas semanas para a minha partida, estou querendo colocar trezentosesessentaecincodias em quinze. Não pode! Não pode! Preciso encontrar-me novamente.

Preciso escrever sobre a mania de fugir das pessoas, mamografia e sobre as interpretações errôneas destes textos, mas agora além da dificuldade que eu já encontrava, minha irmã ligou na Globo, onde passa “A Grande Família”, o que fechou com chave de ouro esta prosa de não-pensamentos.