sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Música ao longe

Meu toca-discos está gracejando com a minha cara e quando eu mais careço de sua companhia ele para de funcionar. Troco então o reggae pelo samba da Marisa – não Maísa – para escrever-te mais uma vez.

Através de Clarissa, criatura de Érico Veríssimo, descobri Paulo Madrigal - poeta até no nome - que disse assim: “O amor que ainda não se definiu é como uma melodia do desenho incerto. Deixa o coração a um tempo alegre e perturbado e tem o encanto fugidio e misteriosos de uma música ao longe...”. E não é que o poetinha entende mesmo do assunto? Para os leigos, o poetinha de Clarissa é outra criação do nosso famoso escritor, já citado.


Mudando de assunto, domingo despertou-me a memória de Joice, minha amiga de outrora que se casou, aprontou as malas e migrou para o sul do país deixando São Paulo com o vazio de sua ausência. Não é hábito citar o nome dos personagens de minha história neste diário – que deveria chamar-se semanário - pois não é de meu agrado esse tipo de asseveração, mas este caso é específico e especial. Meu contentamento é grandioso ao lembrar das maratonas na terra da garoa compostas pela freqüência na faculdade, mesmo que fosse para dormir e recuperar as energias para mais um dia, pelas tardes de atividades complementares em locais como o Museu da Língua Portuguesa e a Pinacoteca do Estado, pelas noites ferventes da capital regadas a cortesias, camarotes, open-bar, fartura de maconha no banheiro, só nossa, e muitas risadas. Sinto-me velha ao lembrar desses dias, pois noto hoje me falta disposição – amigos, dinheiro e tempo talvez. Vale lembrar que não menos especial era ir de encontro com a alvorada no Anhangabaú, comer uma coxinha frita – a mais famosa da cidade – admirando o dia chegando e trazendo com ele a beleza e a loucura do Centro Histórico para depois partirmos de volta para a periferia da Zona Leste, o local mais aconchegante – e distante – que alguém poderia me oferecer para algumas horas de sono no fim da jornada: domingo. Esse pedacinho de texto foi feito como um desabafo, pra te agradecer e dizer que sinto a sua falta Joice, mesmo que você nunca chegue próximo de ler isso tudo.

Nossa... Quase que me esqueço de relatar o que me ocorreu neste mesmo domingo. Pode-se dizer que foi um dia sem-sorte, apenas isso, mas rendeu boas histórias. Fui para a capital de ônibus, peguei o metrô, encontrei uma colega e tomamos outro ônibus – por sorte vazio – sentido Santo Amaro. Para constar: Santo Amaro é Zona Sul, mas é de uma distância da pemba! Descemos na porta da faculdade, local de encontro com outra companheira e estava fechada – que instituição de ensino funciona aos domingos? – é claro. Começou a chover cada vez mais forte. Alteramos com a nossa amiga atrasada para um bar localizado umas dez quadras de onde estávamos, aguardamos ensopadas e enfim fomos rumo ao chá-de-panela. Decidimos comprar alguns pães e bolos para agradar a dona da festa, mas ao chegarmos à padaria começou a sair uma massa de ar quente cinzenta e infinita do carro. O carro tinha menos de um ano, não era dos mais baratos e possuía bancos de couro; Como isso poderia acontecer? Pois aconteceu. Compramos os doces enquanto o motor esfriava. Não era a água, não era a bateria, não era o óleo, não era nada... Era uma simples falta de sorte. O bendito ligou por alguns instantes, mas ao chegar à subida da rua, morreu. Morreu de vez não tendo como satisfeito o fato, desceu de vontade própria até o cruzamento com a avenida. Precisava-mos tirá-lo dali, mas éramos três mulheres em baixo de uma chuva nada católica. Realmente acreditamos que tínhamos a capacidade, mas não foi o bastante. Não apareceu um cidadão solidário nesse meio tempo, então fomos atrás de ajuda. Conseguimos – conseguiram – empurrar o carro de volta ao estacionamento da padaria, mas foi de decisão delas irmos andando ao chá. Era bem próximo e fomos caminhando – continuava chovendo – até que o salto da colega quebrou até que tive de acompanhar e prestar assistência a alguém descalçada descendo a ladeira. Para completar e resumir esta tragédia grega, a sacola de papelão onde estavam armazenados os presentes cedeu e o lindo galheteiro de vidro quebrou-se. Nesta confusão perdeu-se o número do prédio e tivemos que perguntar de porta em porta sobre o tal “bota dentro”. A parte hilária do meu dia terminou por aí, mas a da primeira companheira finalizou-se com o carro do pai quebrado e a da segunda com o seu próprio carro guinchado. O pior é que é tudo verdade.
*Uso muito a palavra “não” em meus textos, preciso ouvir os conselhos de MEU poetinha Vinicius e parar com isso.


Fico por aqui,
Um abraço.