quarta-feira, 24 de setembro de 2008
Diverso, móbil e só
segunda-feira, 22 de setembro de 2008
A máscara da noite
Para um bendito jovem vadio
O encontro que tivemos dias atrás, jovem vadio, fora como uma apunhalada em meu peito solitário que deixou-me em enorme conflito com o juízo. Você é exatamente como finjo ser: um namorado da madrugada isento de preocupações e cercado de flertes secretos. No fundo não sou assim e as vezes creio que bem em seu íntimo não és também. Tão jovem em meio a esta loucura soturna, ontem fingiu-se cavalheiro e em atos nobres me acompanhou de perto, surpreendendo a todos como outra pessoa. O “Primeiro” aparece com freqüência, o que me faz fabular em novos rostos. Um gesto doce entre todos os outros lascivos me fazem pensar que talvez não sejas tão nocivo. Sagitariano, desaponta-me a cada segundo querendo levar o consciente em sua conversa de amante, mas contento-me quando fazes de mim objeto pois, em alguma parte, sei que tens apreço. Porque lorotas? Porque tens esta necessidade de afirmar-se perante ao “outro” ? – você mesmo. És o mais aprasível de toda a redondeza e minhas companheiras afirmam que é de sua natureza, mas não sei se acredito. Gosto e relembro com ardor dos momentos doidivanos em passeios ao enorme jardim real nas madrugadas desta Londres, após incontáveis litros de boa cerveja – aprovadas pelo seu paladar, é claro – deixando todos os tipos de aborrecimentos de lado, existindo então só o banquinho, as mãos congeladas do frio entrelaçando-se à procura de afago ao cansaço mútuo. Instantes poucos que desaparecem nesta imensidão de episódios desentendidos. Poderia estar contigo agora, como é de sua vontade, mas opto pela distância, que valoriza os bons momentos e faz de conta que esquece o que sobrou. Benedict seja o seu nome, jovem vadio, que vêm iluminado em meus sorrisos durante todo o dia. Arquiteto de cultura vasta, conhecedor de livros, filmes e arte em geral, apreciador de música moderna – que foge do meu gosto – e boas ondas, reflete um cidadão nada britânico em seu comportamento “Rio de Janeiro”. Não sei dizer se despertar ao seu lado é de meu agrado e isso é graças à sua inconstância – ou minha. Sagitarianos deveriam ser proibidos de envolver-se com pessoas do mesmo signo, pois pode causar drásticas conseqüências. Exagero meu, eu sei, estou apenas costurando o enredo com mais emoção. Precisamos de dias, não noites. Precisamos de encontros, não baladas. Precisamos de doces estalinhos e não mordidas. Talvez seja o que eu precise... Temos abraços, eu sei, mas tenho vontade de grandes apertos de urso acompanhados de risos e grama. Quero ensinar-lhe palavras bonitas, diferente de todas essas que tens tentado aprender e fazer o “Segundo” ficar sempre em evidência. Para não perder o costume, despeço-me à sua maneira: “Tchau gat, beixo é menliga”.
Caro leitor, isto é uma carta, não sinta-se culpado por não entender as entrelinhas. Em breve voltarei a escrever sobre o cotidiano. Divirto-me nestas coisas escritas. Boa noite.
sexta-feira, 19 de setembro de 2008
Cama
terça-feira, 16 de setembro de 2008
Querido Cartola - 15/09
Boa noite meu querido Cartola, que me acompanha junto à este começo de madrugada em segunda-feira. Meu domingo está acabando, são 00h20, olhei-me refletida no espelho após este longo fim de semana e achei-me linda. Estou em uma fase boa de minha aparência, creio eu. As vezes chateio os moradores desta casa com minha vida boêmia.Você deve estar a perguntar o que me leva a escrever à essas tantas, mas a desilusão inspira o indivíduo.
Amanhã? Espero acordar cedo, tomar o fiel banho quente de banheira colorido pelos nossos falecidos Mutantes e iniciar mais um dia de trabalho. As vezes gosto da idéia de publicar meus textos. Isso tornou-se mais um diário que um espaço para palavras aleatórias, mas faz-me tão feliz! Culpa da solidão, talvez será, mas meu melhor amigo é você e o assunto flui cada dia melhor. Adoro o meu canto, preciso prezar o que tenho. Vi uma rapoza correndo logo agora! Ai samba meu, não está em meus planos virar fumante e nem gorda. Certa vez, uma balzaqueana disse ao encontro de Vininha “uma mulher deve ter na boca um gosto de amor e não de fumo” e concordo plenamente com isso.
Despeço-me agora. “Ser simplesmente como o grão de poesia e íntimo como a melancolia”. Até breve.
Guri, guri, guri... 10/09
Doce capuccino de minha existência e de minhas manhãs, você realmente compreende o que se passa aqui. Estou entrando em um estouvado desespero pois não sei o que quero para a minha vida. Fiz novos amigos na escola; Meus dias agora serão mais cheios de programas. Norah Jones sempre aparece entre os meus cafés... que delícia! A Pequena está na aula de artes e eu fico aqui na minha usual solidão café-e-caneta. Insípido dia! Ainda estamos no meio da semana e não vejo a hora de chegar ao fim desta estafante rotina.Provavelmente você, assíduo leitor, quer saber como concluímos a trama do meu primeiro flerte inglês. Bem, tivemos um oficial reencontro que durou quase um dia inteiro – na verdade, uma tarde de segunda-feira e uma madrugada de terça. Para ele eu fui só mais uma compania para cervejas, cigarros e alguma satisfação íntima em uma tarde comum, mas para mim ele foi um pedaço meu que estava faltando no meio de toda essa carência. Passou, assim espero, como passarão muitas outras pessoas.
Hoje não vou à escola mais uma vez pois preciso praticar algumas técnicas musicais que minha canseira impossibilitou-me de adquirir nos dias passados. Eu, como sempre, deixando a totalidade das coisas para a última hora. Penso que o frio tem parte da culpa nessa ociosidade.
Retirei um livro sobre Jazz na biblioteca à uns dez dias passados e hoje preciso devolve-lo. Não consegui ler mais de um quarto. Leitura em inglês ainda não me satisfaz. Tenho tido uma frequente necessidade de fumar, mas para a minha sorte aqui é caro e é proibido fumar em lugares fechados.
Desta mesa vejo mais de vinte bebês, de no máximo dois anos de idade e cada rostinho me leva à uma diferente e viajante idéia sobre seus futuros. Alguns serão jovens mal-educados – acredito, mas não torço por isso – e estressados com a vida, outros serão bancários, advogados e médicos, outros poucos irão para o mundo das artes e uma grande parte das meninas serão estúpidas e submissas donas de casa, com dois filhos, um cachorro e um marido despreocupado e infiel. Perdi a pequena por alguns instantes nessa imensidão de brinquedos e erês. Preciso comentar um acontecimento: Todas as crianças tiraram suas calças, trouxeram para as mães e voltaram a brincar sem elas.
domingo, 7 de setembro de 2008
Brighton
Como sempre, chove muito por aqui, mas hoje estou alojada em um lugar especial: Brighton. É difícil explicar que mesmo eu não sendo a maior conhecedora de cidades deste mundo, acho que esta está entre as mais belas.É a junção da parte encantada de Londres – Nothing Hill etc – em sua arquitetura particular com uma costa primorosa formada por uma orla de conchas e uma airosa avenida de ponta a ponta. Estou no quarto de um flat aconchegante e com vista parcial para a praia. Tem uma mesinha, uma cadeira, televisor... uma delícia! Passei por cima de da tosse e fui conhecer a cidade esta tarde, na chuva. Gastei mais e mais dinheiro – coisa que não posso – mas não me arrependo. Caminhei de namoro com o mar furioso e senti-me limpa. Comprei um par de sapatos, um disco e um livro. Só para constar: Recebi uma mensagem de desculpas esta manhã do rapaz da noite anterior, confirmando que me retornará no início da semana. Veremos...
07/08, 09h20
Da pequena janela, encontro-me com o outono que logo nos deixará, com começos de vida de agasalhados caminheiros e com os fins de biografia de nobres indivíduos que nesta nação não marcam encontros de bocha ou dominó, mas migram para o litoral – como os nossos. Preguiça de despertar. Esta vidraça me acolhe e leva meu intelecto namorador para mais uma viagem. A música aqui é o cantar dos excêntricos pássaros praianos e o encontrar contínuo das ondas com o calcário. Agora a natureza cala-se e o silêncio predomina neste cômodo... até o suave sopro dos ventos derrubarem folhas secas pela escada de incêndio.
07/08, 11h15
Estou encantada com tamanha beleza desta cidade. O mar inicia-se barroso e vai tornando-se verde e infinito em um horizonte distante. Porque será que o horizonte aqui fica mais longe? Entre Elvis Presley e música de parque de diversões, sento-me em um banco rústicono pier de frente para toda a orla – o famoso. Preciso voltar mais vezes. Aqui é a cidade dos casais: homens, mulheres, homens, homens, mulheres, mulheres, idosos, jovens... Brighton é amor de cima a baixo. Dor nas costas. Aqui os pássaros voam pertinho, o cheiro é de maresia, famílias divertem-se em mini-cassinos e todos comem fish and chips. Estou me segurando para não comprar um agora, pois adoro. Queria poder mandar um pedacinho deste lugar para meus queridos pelo correio, mas preciso contentar-me com postais. Congelo, mas me sinto bem.
Este é um local – fora do meu país - onde imagino a minha idade chegando e meus filhos crescendo. Cabelos voam desgovernados nessa eternidade de segundos em solidão. Triste praia de pedras. Encantadora praia de pedras. Pareço caminhar em uma praia na década de 50.
Sinto falta da erva querida – o que não é dificil por aqui, mas sou pobre e estou à trabalho. Estou ficando doente e parece que vai chover. Bossa nova é a palavra que resume este lugar. Eu e o mar, eu e o mar, eu e o mar... Agora vejo o pier com distância e estou mais aquecida. Que esta imagem seja eterna enquanto dure.
Palavra de bartender - 06/09
Nada como esquecer as cortinas abertas durante a noite em um quarto no topo da casa e ser despertada pela alvorada ensolarada de sábado com nuvens em todo o meu redor. Não me droguei, simplesmente minha vida amanheceu contente. Regar-se em uma banheira com sais em água quente até a pele enrrugar e o relógio dar a volta completa. Rolling Stones em “Beggars Banquet” brindam este novo dia dando-me forças, acompanhados por uma torrada quentinha com manteiga e um delicioso chá sul-africano. A conexão virtual com o mundo não está funcionando, o que é bom e não me distrai, fazendo com que eu esteja de corpo e alma nesse texto. A sexta-feira chuvosa de Londres foi extraordinária, mesmo tendo-me feito gastar mais que o necessário – coisa que não posso.Engraçado imaginar que quando escrevo no papel, penso só em mim, mas quando vou concretizar os textos lembro que meus amigos muitas vezes acompanham e sinto-me na obrigação de explicar cada fato da forma mais compreensível.
Olá amigo - 05/09
Saí atrasada para a escola, cheguei três vezes mais atrasada então decidi não entrar na primeira aula. Parei em um café – que me acalma, mesmo estando localizado no borbulhar da cidade – pedi um pequeno capuccino para pensar na vida, relaxar e ganhar tempo: Ótima idéia. O tempo por aqui anda confuso... A música ambiente é muito agradável e não vejo pessoas assustadoras – como a maioria nesta cidade – por aqui. É Norah Jones! Ai que alegria. Pensando bem, acho que a melhor coisa que poderia me acontecer hoje era atrasar-me, tomar este capuccino bem doce e quente em um fim de tarde chuvoso desta cidade cinza com esta suave melodia rodeando meus ouvidos. Tenho uma enorme quantidade de coisas para pensar, mas é a ultima coisa que eu quero agora. Meu único amigo por aqui é você. Quem é você? Eu? Pode ser.
