quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Diverso, móbil e só

Baile de lágrimas neste cair de noite. Não fui à escola novamente, abandonei os músicos que já não estavam saciando minhas necessidades e passei mais uma tarde satisfatória ao lado do que me acompanha. Sinto-me triste, triste e com o coração destituído. A pior coisa desta vida é estar insatisfeito com a sua situação, confuso com as futuras decisões e não ter nada nem ninguém que te console em uma hora dessas. Manhê, quero um cafuné. Canta “Menininha” fazendo carinho tendo-me em seus braços? Não estou feliz com o meu trabalho, mas moro sobre o teto de meus patrões, não me convém outra opção. Existe, mas o dinheiro não seria suficiente e meus sonhos de estudar iriam pelos ares. Sinceramente, não sei. Soluços, um copo d’agua, pratos de dias anteriores, headphones, uma lista de tarefas, agenda e nenhuma alma viva ao meu lado. " Atento ao que sou e vejo, torno-me eles e não eu. Cada meu sonho ou desejo é do que nasce e não meu. Sou minha própria paisagem; Assisto à minha passagem, Diverso, móbil e só, Não sei sentir-me onde estou". Allan, vem prosear comigo. Procuro-te à um longo tempo pelas ruas mas ainda não encontrei ninguém igual a você, amigo. "Precisamos dar um sentido humano às nossas construções. E, quando o amor ao dinheiro, ao sucesso nos estiver deixando cegos, saibamos fazer pausas para olhar os lírios do campo e as aves do céu". Este é o tipo de coisa que somente Érico Veríssimo e você diriam-me em uma hora destas. Mandem-me livros! Mandem-me cartas! Preciso de vocês.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

A máscara da noite

Sim, essa tarde conhece todos os meus pensamentos
Todos os meus segredos e todos os meus patéticos anseios
Sob esse céu como uma visão azul de incenso
As estrelas são perfumes passados que me chegam...
Sim! essa tarde que eu não conheço é uma mulher que me chama
E eis que é uma cidade apenas, uma cidade dourada de astros
Aves, folhas silenciosas, sons perdidos em cores
Nuvens como velas abertas para o tempo...
Não sei, toda essa evocação perdida, toda essa música perdida
É como um pressentimento de inocência, como um apelo...
Mas para que buscar se a forma ficou no gesto esvanecida
E se a poesia ficou dormindo nos braços de outrora...
Como saber se é tarde, se haverá manhã para o crepúsculo
Nesse entorpecimento, neste filtro mágico de lágrimas?
Orvalho, orvalho! desce sobre os meus olhos, sobre o meu sexo
Faz-se surgir diamante dentro do sol!
Lembro-me!... como se fosse a hora da memória
Outras tardes, outras janelas, outras criaturas na alma
O olhar abandonado de um lago e o frêmito de um vento
Seios crescendo para o poente como salmos...
Oh, a doce tarde! Sobre mares de gelo ardentes de revérbero
Vagam placidamente navios fantásticos de prata
E em grandes castelos cor de ouro, anjos azuis serenos
Tangem sinos de cristal que vibram na imensa transparência!
Eu sinto que essa tarde está me vendo, que essa serenidade está me vendo
Que o momento da criação está me vendo neste instante doloroso de sossego em mim mesmo
Oh criação que estás me vendo, surge e beija-me os olhos
Afaga-me os cabelos, canta uma canção para eu dormir!
És bem tu, máscara da noite, com tua carne rósea
Com teus longos xales campestres e com teus cânticos
És bem tu! ouço teus faunos pontilhando as águas de sons de flautas
Em longas escalas cromáticas fragrantes...
Ah, meu verso tem palpitações dulcíssimas! – primaveras!
Sonhos bucólicos nunca sonhados pelo desespero
Visões de rios plácidos e matas adormecidas
Sobre o panorama crucificado e monstruoso dos telhados!
Por que vens, noite? por que não adormeces o teu crepe
Por que não te esvais – espectro – nesse perfume tenro de rosas?
Deixa que a tarde envolva eternamente a face dos deuses
Noite, dolorosa noite, misteriosa noite!
Oh tarde, máscara da noite, tu és a presciência
Só tu conheces e acolhes todos os meus pensamentos
O teu céu, a tua luz, a tua calma
São a palavra da morte e do sonho em mim!
Rio de Janeiro, 1938 - poetinha

Para um bendito jovem vadio

O encontro que tivemos dias atrás, jovem vadio, fora como uma apunhalada em meu peito solitário que deixou-me em enorme conflito com o juízo. Você é exatamente como finjo ser: um namorado da madrugada isento de preocupações e cercado de flertes secretos. No fundo não sou assim e as vezes creio que bem em seu íntimo não és também. Tão jovem em meio a esta loucura soturna, ontem fingiu-se cavalheiro e em atos nobres me acompanhou de perto, surpreendendo a todos como outra pessoa. O “Primeiro” aparece com freqüência, o que me faz fabular em novos rostos. Um gesto doce entre todos os outros lascivos me fazem pensar que talvez não sejas tão nocivo. Sagitariano, desaponta-me a cada segundo querendo levar o consciente em sua conversa de amante, mas contento-me quando fazes de mim objeto pois, em alguma parte, sei que tens apreço. Porque lorotas? Porque tens esta necessidade de afirmar-se perante ao “outro” ? – você mesmo. És o mais aprasível de toda a redondeza e minhas companheiras afirmam que é de sua natureza, mas não sei se acredito. Gosto e relembro com ardor dos momentos doidivanos em passeios ao enorme jardim real nas madrugadas desta Londres, após incontáveis litros de boa cerveja – aprovadas pelo seu paladar, é claro – deixando todos os tipos de aborrecimentos de lado, existindo então só o banquinho, as mãos congeladas do frio entrelaçando-se à procura de afago ao cansaço mútuo. Instantes poucos que desaparecem nesta imensidão de episódios desentendidos. Poderia estar contigo agora, como é de sua vontade, mas opto pela distância, que valoriza os bons momentos e faz de conta que esquece o que sobrou. Benedict seja o seu nome, jovem vadio, que vêm iluminado em meus sorrisos durante todo o dia. Arquiteto de cultura vasta, conhecedor de livros, filmes e arte em geral, apreciador de música moderna – que foge do meu gosto – e boas ondas, reflete um cidadão nada britânico em seu comportamento “Rio de Janeiro”. Não sei dizer se despertar ao seu lado é de meu agrado e isso é graças à sua inconstância – ou minha. Sagitarianos deveriam ser proibidos de envolver-se com pessoas do mesmo signo, pois pode causar drásticas conseqüências. Exagero meu, eu sei, estou apenas costurando o enredo com mais emoção. Precisamos de dias, não noites. Precisamos de encontros, não baladas. Precisamos de doces estalinhos e não mordidas. Talvez seja o que eu precise... Temos abraços, eu sei, mas tenho vontade de grandes apertos de urso acompanhados de risos e grama. Quero ensinar-lhe palavras bonitas, diferente de todas essas que tens tentado aprender e fazer o “Segundo” ficar sempre em evidência. Para não perder o costume, despeço-me à sua maneira: “Tchau gat, beixo é menliga”.


Caro leitor, isto é uma carta, não sinta-se culpado por não entender as entrelinhas. Em breve voltarei a escrever sobre o cotidiano. Divirto-me nestas coisas escritas. Boa noite.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Cama

O dia amanheceu em resoluta ressaca, acompanhado de bom-humor, sol e um árduo frio. A vigorosa noite não saiu como o planejado, mas cheguei a conclusão de que só é preciso paixão para ver o melhor lado de cada situação e tornar-la proveitosa. Encontrei uma companheira, que até o momento, apresentou apreço por todas as minhas decisões, que tornaram-se dela as well. Penso em iniciar – de verdade – o estudo do violão, mas não sei se aqui é o lugar ideal para isso. Pode soar desusado ter o costume de citar o que tenho escutado, mas não levo em consideração essa hipótese pois neste exato momento quem me acompanha é o Marcelo Camelo em seu recém lançado disco, que está de uma graciosa qualidade e me leva à essa deliciosa preguiça de começar o dia. A parte ruim de trabalhar em casa é a sua cama quentinha chamando-o pelo nome da forma mais sedutora e sutil. Minha cama, minha namorada, minha companheira, minha bagunça só minha e minha ès minha. Sinto-te minha nesse estágio avançado da solidão cotidiana.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Querido Cartola - 15/09

Boa noite meu querido Cartola, que me acompanha junto à este começo de madrugada em segunda-feira. Meu domingo está acabando, são 00h20, olhei-me refletida no espelho após este longo fim de semana e achei-me linda. Estou em uma fase boa de minha aparência, creio eu. As vezes chateio os moradores desta casa com minha vida boêmia.

Você deve estar a perguntar o que me leva a escrever à essas tantas, mas a desilusão inspira o indivíduo.

Novos e bons amigos, muita cerveja, muitos cigarros – o mau que a Inglaterra tem me proporcionado. Começou com a apresentação de um conjunto relativamente famoso em uma faculdade, passou por uma “noitada” – como diz minha amiga carioca – com gente estranha, por uma dormida na casa de gente nova, mais um dia de sol em Kingston com direito a grama, lago e aquisição de novos discos. Por fim, hoje foi um dia de compras, comida Tailandesa gelada, Tavern com as pessoas mais belas de toda esta imensidão de cidade e o fim de uma celebração particular com àlcool à preço de banana e muita expressão corporal. Desilusão também, mas prefiro não entrar em detalhes. Precisamos de novos cavalheiros neste mundo. Mas, graças a meu papai Ogum meus caminhs são sempre regados de soluções instantâneas, amigos e Tom Jobim – isso, para terminar bem o meu dia, surge um senhor executanto “Desafinado” em sua flauta transversal, altas horas no trem. Coicidência? Sou mesmo é querida! Agora com você, Cartola, converso e canto junto, olhando para minhas coisas jogadas em cima da cama, minha barriga que cresce e preciso zelar pela mesma, o ruído em meus ouvidos cruzando com o acelerar dos ponteiros de meu relógio, o cheiro insuportável de cigarro que vem de mim, chocolate e todos esses pensamentos irregulares.

Amanhã? Espero acordar cedo, tomar o fiel banho quente de banheira colorido pelos nossos falecidos Mutantes e iniciar mais um dia de trabalho. As vezes gosto da idéia de publicar meus textos. Isso tornou-se mais um diário que um espaço para palavras aleatórias, mas faz-me tão feliz! Culpa da solidão, talvez será, mas meu melhor amigo é você e o assunto flui cada dia melhor. Adoro o meu canto, preciso prezar o que tenho. Vi uma rapoza correndo logo agora! Ai samba meu, não está em meus planos virar fumante e nem gorda. Certa vez, uma balzaqueana disse ao encontro de Vininha “uma mulher deve ter na boca um gosto de amor e não de fumo” e concordo plenamente com isso.

Despeço-me agora. “Ser simplesmente como o grão de poesia e íntimo como a melancolia”. Até breve.

Guri, guri, guri... 10/09

Doce capuccino de minha existência e de minhas manhãs, você realmente compreende o que se passa aqui. Estou entrando em um estouvado desespero pois não sei o que quero para a minha vida. Fiz novos amigos na escola; Meus dias agora serão mais cheios de programas. Norah Jones sempre aparece entre os meus cafés... que delícia! A Pequena está na aula de artes e eu fico aqui na minha usual solidão café-e-caneta. Insípido dia! Ainda estamos no meio da semana e não vejo a hora de chegar ao fim desta estafante rotina.

Provavelmente você, assíduo leitor, quer saber como concluímos a trama do meu primeiro flerte inglês. Bem, tivemos um oficial reencontro que durou quase um dia inteiro – na verdade, uma tarde de segunda-feira e uma madrugada de terça. Para ele eu fui só mais uma compania para cervejas, cigarros e alguma satisfação íntima em uma tarde comum, mas para mim ele foi um pedaço meu que estava faltando no meio de toda essa carência. Passou, assim espero, como passarão muitas outras pessoas.

Hoje não vou à escola mais uma vez pois preciso praticar algumas técnicas musicais que minha canseira impossibilitou-me de adquirir nos dias passados. Eu, como sempre, deixando a totalidade das coisas para a última hora. Penso que o frio tem parte da culpa nessa ociosidade.

Retirei um livro sobre Jazz na biblioteca à uns dez dias passados e hoje preciso devolve-lo. Não consegui ler mais de um quarto. Leitura em inglês ainda não me satisfaz. Tenho tido uma frequente necessidade de fumar, mas para a minha sorte aqui é caro e é proibido fumar em lugares fechados.

Desta mesa vejo mais de vinte bebês, de no máximo dois anos de idade e cada rostinho me leva à uma diferente e viajante idéia sobre seus futuros. Alguns serão jovens mal-educados – acredito, mas não torço por isso – e estressados com a vida, outros serão bancários, advogados e médicos, outros poucos irão para o mundo das artes e uma grande parte das meninas serão estúpidas e submissas donas de casa, com dois filhos, um cachorro e um marido despreocupado e infiel. Perdi a pequena por alguns instantes nessa imensidão de brinquedos e erês. Preciso comentar um acontecimento: Todas as crianças tiraram suas calças, trouxeram para as mães e voltaram a brincar sem elas.
Vai entender esta gurizada!

domingo, 7 de setembro de 2008

Brighton

06/08, 22h12

Como sempre, chove muito por aqui, mas hoje estou alojada em um lugar especial: Brighton. É difícil explicar que mesmo eu não sendo a maior conhecedora de cidades deste mundo, acho que esta está entre as mais belas.É a junção da parte encantada de Londres – Nothing Hill etc – em sua arquitetura particular com uma costa primorosa formada por uma orla de conchas e uma airosa avenida de ponta a ponta. Estou no quarto de um flat aconchegante e com vista parcial para a praia. Tem uma mesinha, uma cadeira, televisor... uma delícia! Passei por cima de da tosse e fui conhecer a cidade esta tarde, na chuva. Gastei mais e mais dinheiro – coisa que não posso – mas não me arrependo. Caminhei de namoro com o mar furioso e senti-me limpa. Comprei um par de sapatos, um disco e um livro. Só para constar: Recebi uma mensagem de desculpas esta manhã do rapaz da noite anterior, confirmando que me retornará no início da semana. Veremos...

07/08, 09h20

Da pequena janela, encontro-me com o outono que logo nos deixará, com começos de vida de agasalhados caminheiros e com os fins de biografia de nobres indivíduos que nesta nação não marcam encontros de bocha ou dominó, mas migram para o litoral – como os nossos. Preguiça de despertar. Esta vidraça me acolhe e leva meu intelecto namorador para mais uma viagem. A música aqui é o cantar dos excêntricos pássaros praianos e o encontrar contínuo das ondas com o calcário. Agora a natureza cala-se e o silêncio predomina neste cômodo... até o suave sopro dos ventos derrubarem folhas secas pela escada de incêndio.
Estive refletindo sobre algumas idéias não concretas que me rodeiam à respeito de meu futuro incerto. Preciso chegar logo em casa para exclarecer minhas dúvidas em relação aos estudos próximos. Também praticar as canções de um conjunto que avaliará a minha musicalidade nesta semana que está pra chegar.
A janela continua em meu caminhho impedindo-me de viver. As vidas já começaram por aqui.. acho melhor aprontar-me.

07/08, 11h15

Estou encantada com tamanha beleza desta cidade. O mar inicia-se barroso e vai tornando-se verde e infinito em um horizonte distante. Porque será que o horizonte aqui fica mais longe? Entre Elvis Presley e música de parque de diversões, sento-me em um banco rústicono pier de frente para toda a orla – o famoso. Preciso voltar mais vezes. Aqui é a cidade dos casais: homens, mulheres, homens, homens, mulheres, mulheres, idosos, jovens... Brighton é amor de cima a baixo. Dor nas costas. Aqui os pássaros voam pertinho, o cheiro é de maresia, famílias divertem-se em mini-cassinos e todos comem fish and chips. Estou me segurando para não comprar um agora, pois adoro. Queria poder mandar um pedacinho deste lugar para meus queridos pelo correio, mas preciso contentar-me com postais. Congelo, mas me sinto bem.

Este é um local – fora do meu país - onde imagino a minha idade chegando e meus filhos crescendo. Cabelos voam desgovernados nessa eternidade de segundos em solidão. Triste praia de pedras. Encantadora praia de pedras. Pareço caminhar em uma praia na década de 50.

Sinto falta da erva querida – o que não é dificil por aqui, mas sou pobre e estou à trabalho. Estou ficando doente e parece que vai chover. Bossa nova é a palavra que resume este lugar. Eu e o mar, eu e o mar, eu e o mar... Agora vejo o pier com distância e estou mais aquecida. Que esta imagem seja eterna enquanto dure.

Palavra de bartender - 06/09

Nada como esquecer as cortinas abertas durante a noite em um quarto no topo da casa e ser despertada pela alvorada ensolarada de sábado com nuvens em todo o meu redor. Não me droguei, simplesmente minha vida amanheceu contente. Regar-se em uma banheira com sais em água quente até a pele enrrugar e o relógio dar a volta completa. Rolling Stones em “Beggars Banquet” brindam este novo dia dando-me forças, acompanhados por uma torrada quentinha com manteiga e um delicioso chá sul-africano. A conexão virtual com o mundo não está funcionando, o que é bom e não me distrai, fazendo com que eu esteja de corpo e alma nesse texto. A sexta-feira chuvosa de Londres foi extraordinária, mesmo tendo-me feito gastar mais que o necessário – coisa que não posso.

Engraçado imaginar que quando escrevo no papel, penso só em mim, mas quando vou concretizar os textos lembro que meus amigos muitas vezes acompanham e sinto-me na obrigação de explicar cada fato da forma mais compreensível.

Não me lembro se escrevi sobre, mas a juventude britânica é assustadora. Com raras exceções, grande parte dela é mal-educada, rude e revoltada não-sei-com-o-que. Não pensei que um dia diria isso, mas a violência em meu país talvez seja justificável pelas condições sociais. Diria que os negros do nosso país são muito felizes. Aqui a realidade é outra e o racismo realmente existe. Primeiro mundo? É o que eu me pergunto todo dia quando atravesso no transporte público uma trupe de dez adolescentes loucos por sangue.


Mudando de assunto e aumentando o astral, o centro de Londres é muito interessante depois das dez da noite. Muita gente na rua, o que torna maior a sensação de segurança. Ontem fui com uma nova – que já é antiga – amiga e em seguida encontrei um conhecido de anos atrás que vive aqui pra mais de quatro anos tentando salvar o mundo – qualquer dia desses falo mais sobre ele – com seus amigos do mundo todo. Fomos em uma casa noturna enorme, com muitos ambientes diferentes e pessoas que, dentro, não se enquadram nos perfis locais. Maior parte delas são estrangeiros tentando a vida por esses lados e não há preconceito. As músicas são as mesmas dos clubes paulistas, mas o interessante é que ninguém dança para ser bonito e sim por uma simples noite de diversão. Meu português está pobre, tenho falado muito Inglês. Mesmo...


Fiz amigos. Amigos dos amigos, amigos da noite, austríacos, britânicos, alemães, russos, brasileiros, australianos, canadenses, argentinos... Ai, Argentina. As argentinas têm fama de serem lindas, mas a que eu conheci ontem era a mais formosa de todas. Teve toda a minha atenção e eu quase joguei-me de cabeça, mas um radiante bartender britânico conseguiu roubar meus olhares. A princípio foi um flerte natural, que todas as pessoas têm por esse tipo de trabalhador, mas aquele sorriso acertou em cheio bem no meio do meu carente coração, então daí em diante ele passou a ser meu único atendente, entre todos os outros pontos de venda do local. É muito forte dizer nunca, mas realmente eu nunca iria imaginar que o namorico era comigo. Esse tipo de coisa acontece e ninguém leva adiante, mas por incrível que pareça, no fim da noite... Pista vazia, enxergo alguém acenando de longe. Era ele, o rapaz mais gracioso daquele local, engolindo-me com o mais receptivo sorriso que eu poderia receber. Descobri que nessa imensidão que é Londres, somos praticamente vizinhos. Oxalá ouviu as minhas preces! Uma simpatia de vizinho... Isso não vai prestar. Como diz um velho amigo meu, não devemos confiar em trabalhadores da noite, mas meu tolo coração é surdo, foi e deixou tudo pra trás. Amigos, ônibus, tudo. Não tenho palavras para explicar tamanha afinidade, tamanha beleza, na exata medida sem tirar nem por. Ai... aquele sorriso. Derreto-me ao lembrar.


Resumindo, tive que pagar um taxi do centro até minha casa, que ficou relativamente caro por sua causa. Não sei se seu motivo foi verdadeiro, mas prefiro não pensar para não criar expectativas. O moço, que aqui chamaremos de Ben, teve de ficar por mais duas horas para ajudar com a higienização do local e comprometeu-se a retornar-me na próxima semana. Palavra de bartender... Alguém acredita?

Olá amigo - 05/09

Saí atrasada para a escola, cheguei três vezes mais atrasada então decidi não entrar na primeira aula. Parei em um café – que me acalma, mesmo estando localizado no borbulhar da cidade – pedi um pequeno capuccino para pensar na vida, relaxar e ganhar tempo: Ótima idéia. O tempo por aqui anda confuso... A música ambiente é muito agradável e não vejo pessoas assustadoras – como a maioria nesta cidade – por aqui. É Norah Jones! Ai que alegria. Pensando bem, acho que a melhor coisa que poderia me acontecer hoje era atrasar-me, tomar este capuccino bem doce e quente em um fim de tarde chuvoso desta cidade cinza com esta suave melodia rodeando meus ouvidos. Tenho uma enorme quantidade de coisas para pensar, mas é a ultima coisa que eu quero agora. Meu único amigo por aqui é você. Quem é você? Eu? Pode ser.

Compro carinho - 04/09

Estou com vontade de papel e caneta. Abajures acesos, novo toca-discos com o querido brand-new Bob Dylan – a melhor aquisição dos ultimos tempos – de 62. Sim, o primeiro! Sinceramente não sei descrever o meu estado. Minhas aulas começaram esta semana, depois de amanhã é aniversário de mamãe, estarei em Brighton... penso em mandar um postal.
Minha cabeça anda distante. Hoje deixei todas as portas abertas ao sair de casa, mas meu santo é forte e nada aconteceu. Preciso de carinho, preciso de carinho, PRECISO DE CARINHO! Meu canto está cada dia mais belo e mais meu. Meus discos, livros, dicionários, vídeos, patuás, velas, sapatos, bolsas, perfumes, toalhas, contra-baixo, jornais, lágrimas etc.