O encontro que tivemos dias atrás, jovem vadio, fora como uma apunhalada em meu peito solitário que deixou-me em enorme conflito com o juízo. Você é exatamente como finjo ser: um namorado da madrugada isento de preocupações e cercado de flertes secretos. No fundo não sou assim e as vezes creio que bem em seu íntimo não és também. Tão jovem em meio a esta loucura soturna, ontem fingiu-se cavalheiro e em atos nobres me acompanhou de perto, surpreendendo a todos como outra pessoa. O “Primeiro” aparece com freqüência, o que me faz fabular em novos rostos. Um gesto doce entre todos os outros lascivos me fazem pensar que talvez não sejas tão nocivo. Sagitariano, desaponta-me a cada segundo querendo levar o consciente em sua conversa de amante, mas contento-me quando fazes de mim objeto pois, em alguma parte, sei que tens apreço. Porque lorotas? Porque tens esta necessidade de afirmar-se perante ao “outro” ? – você mesmo. És o mais aprasível de toda a redondeza e minhas companheiras afirmam que é de sua natureza, mas não sei se acredito. Gosto e relembro com ardor dos momentos doidivanos em passeios ao enorme jardim real nas madrugadas desta Londres, após incontáveis litros de boa cerveja – aprovadas pelo seu paladar, é claro – deixando todos os tipos de aborrecimentos de lado, existindo então só o banquinho, as mãos congeladas do frio entrelaçando-se à procura de afago ao cansaço mútuo. Instantes poucos que desaparecem nesta imensidão de episódios desentendidos. Poderia estar contigo agora, como é de sua vontade, mas opto pela distância, que valoriza os bons momentos e faz de conta que esquece o que sobrou. Benedict seja o seu nome, jovem vadio, que vêm iluminado em meus sorrisos durante todo o dia. Arquiteto de cultura vasta, conhecedor de livros, filmes e arte em geral, apreciador de música moderna – que foge do meu gosto – e boas ondas, reflete um cidadão nada britânico em seu comportamento “Rio de Janeiro”. Não sei dizer se despertar ao seu lado é de meu agrado e isso é graças à sua inconstância – ou minha. Sagitarianos deveriam ser proibidos de envolver-se com pessoas do mesmo signo, pois pode causar drásticas conseqüências. Exagero meu, eu sei, estou apenas costurando o enredo com mais emoção. Precisamos de dias, não noites. Precisamos de encontros, não baladas. Precisamos de doces estalinhos e não mordidas. Talvez seja o que eu precise... Temos abraços, eu sei, mas tenho vontade de grandes apertos de urso acompanhados de risos e grama. Quero ensinar-lhe palavras bonitas, diferente de todas essas que tens tentado aprender e fazer o “Segundo” ficar sempre em evidência. Para não perder o costume, despeço-me à sua maneira: “Tchau gat, beixo é menliga”.
Caro leitor, isto é uma carta, não sinta-se culpado por não entender as entrelinhas. Em breve voltarei a escrever sobre o cotidiano. Divirto-me nestas coisas escritas. Boa noite.
