segunda-feira, 7 de julho de 2008

Início

Hoje é o início de pouca coisa. Pouca coisa representa pequena quantidade, mas não tira o mérito das mesmas poucas.

Começo de uma nova etapa da vida de alguém que pensa que sabe o que quer para a própria existência, tendo tão pouco usufruído desta. Reflito ao som de uma das novas caras da música brasileira, Helio Flanders, cantando em inglês uma música incrivelmente doce e sutil, capaz de tocar até mesmo o coração daqueles que colocam uma barreira de aço ao redor de seus pensamentos para fazer comentários nunca satisfeitos. Me perco em idéias doces e sutis como esta canção que me levam longe neste fim-de-tarde friozinho de folga. Folga? Sim, cá está o motivo da tal nova fase: A partir de hoje não trabalho mais. Simples assim e sem muitas explicações. Faço textos sem explicações e sentido, faço músicas sem explicações e sentido, faço coisas sem explicação e sentido, mas nessa hora juro que tudo o que eu pensei foi que eu precisava sair de lá. Era cômodo e me proporcionava ouro, mas agora que tenho o que planejei, não é tão simples controlar os anseios e beirar uma vida paralela, tendo de seguir as regras ditadas por uma pessoa menos instruída que vai permanecer por pelo menos mais uns cinco anos na mesma posição, até estar velha demais para o cargo e ser engolida por uma carne fresca. Desejo o pôr-do-sol mais bonito, como o de hoje, todos os dias para todas essas pessoas que ficaram. Para as mais queridas, deixei mensagens de despedida, para que lembrem de mim nos momentos mais inusitados... mas tenho um coração gelado, desgosto por despedidas e guardo em histórias cada pessoinha daquelas.


Deixei-as. Ficarão bem, eu sei.




A outra pouca coisa que inicia-se hoje é você, Balada das meninas de bicicleta, inspirada na poesia do meu Vinicius, dedico-me à partir de agora a mais um passatempo: escrever. Não sou do tipo fã de grandes escritores, não torno a literatura sagrada e não tenho o melhor português do mundo, mas a necessidade de tornar eternos os pensamentos cotidianos me faz ter apreço por você.




A minha verdade está com sono, já anoiteceu e o Hélio continua cantando para me aquietar.


Paro por infinitos segundos nesta melodia simples, batida e genial, planejando o que mais será do dia de hoje, de amanhã, do próximo mês no velho continente e todas as coisas, poucas, que me rodeiam. Interrompida por um telefonema relembro a família querida que ficará também na minha próxima despedida, desta vez sendo inerte remediar. Mas está chegando uma nova vida, ainda desconhecida, por aqui para ocupar o vazio que deixarei no coração do vovô.




Uma menina que ocupou meus pensamentos, mensagens de texto e telefonemas durante algumas semanas tornou-se distante, mas assim como eu ela é de Sagitário, o que torna tudo mais complicado. Distante, distante, mas meu coração saltava para sua proximidade a cada atenção trocada em meio a distância. Trocada no início e não correspondida no final - pelo menos é a minha percepção. Cansei e coloquei-a em mais uma história passageira até esquecer por quase completo. Não existe maneira de conseguir tal façanha com um sargitariano, que agarra suas esperanças e as alimenta vezemquando de forma afetuosa. Ontem planejava cervejar por aí com uma amiga para celebrar a nova vida com alguém que realmente se importa com o motivo. E fui. Fui com o pensamento na proposta de minha menina, que reapareceu com o que talvez aconteceria, como todos os talvez envolvidos em suas decisões, de um possível breve reencontro. Ao acordar já havia esquecido - e mesmo quando não, fingia esquecer - a possibilidade de vê-la. Mas não durou muito tempo, logo tornou a ligar e confirmar que o talvez continuava sendo talvez, mas a ligação tornava-o mais real. Continuo aqui, iniciando a minha noite junto a todas as poucas coisas que inicio, com a certeza de que não a verei hoje novamente e que é melhor não pensar, pois mais complicado do que relacionar-se com um homem complicado, é relacionar-se com uma menina linda e complicada de Sagitário. Não, não estou apaixonada... tenho o coração gelado, lembra? Mas sou uma apaixonada pela vida e pelas pessoas que atravessam a minha.


Para refletir, flerto a alguns meses com um balzaqueano musicista, talvez mais gênio do que o Hélio - que continua na trilha, que tem uma filha alcançando a minha idade. Não é dos mais belos, tem um sotaque tipicamente nordestino, pele dourada do sol, barba e uma paixão infinita por cultura. Amo cada frase dita da forma dele, derreto-me e encho o peito de orgulho toda vez que aparece no meu televisor. Isso tudo também não quer dizer que sou apaixonada, no sentido literal da palavra. Acho que não faz sentido e já falamos sobre isso.




Minha irmã terminou um bolo, já degustei todo aquele finzinhodechocolate que ficou na tigela e agora vou fazer o papel de boa irmã-mais-velha e a deixarei alimentar suas necessidades adolescentes no Orkut e Messenger com suas amigas, que sabemos que não são amigas, e seus atuais e futuros amores, platônicos ou não, para que a vida continue, como todas as segundas-feiras (de férias!).


* A imagem do fim-de-tarde é da Fernanda Luz, uma fotógrafa Santista.